Entrevista com Claudia Cunha, Cantora e compositora de Música Popular Brasileira

  • Blog do Argonauta: - oi Claudia, tudo bem?
  • Claudia Cunha: - Tudo!
  • Blog do Argonauta: - Que bom. Claudia, confesso que ao ouvir você cantando, senti uma sensação muito agradável, sua voz e as músicas que canta formam um mar de harmonias e sons fabulosos.
  • Claudia Cunha: - Imagino que você esteja se referindo ao meu CD "Responde à Roda". Uma curiosidade: como você chegou até ele?
  • Blog do Argonauta: - Uma amiga minha que também canta, Larissa Areias, me falou de você com muitos elogios, e eu já tinha visto e ouvido uma coisa ou outra sua na internet, música e eventos musicais também. Daí foi só ouvir mais, saber mais e se apaixonar pela boa música que você faz e canta.
  • Claudia Cunha: - Bem, além da curiosidade em saber o caminho que um CD percorre até chegar às pessoas mais diversas, é uma alegria quando se ganha um retorno sobre ele. Existe uma característica ligada à minha voz que é uma das prováveis razões pra que você tenha essa percepção que você descreveu: um veludo. (Risos). Acho que tem a ver com a água doce dos igarapés e rio que mergulhei na infância e juventude no Pará.
  • Esses sotaques e cores das vozes dos cantores é sempre algo que chama minha atenção. É possível muitas vezes relacionar um timbre e determinadas escolhas estilísticas a uma determinada região ou cidade: como o Pará, Minas, São Paulo... e por aí vai.
  • Blog do Argonauta: - Bom. Agora falando de você e seus projetos musicais. O seu primeiro disco "Responde a roda" tem músicas suas e de outros compositores também certo?
  • Claudia Cunha: - Certo. Embora me veja bem mais como intérprete que compositora.
  • Blog do Argonauta: - Ok. Conta pra gente como surgiu essa veia musical voltada para a Música Popular Brasileira?
  • Claudia Cunha: - Preciso voltar um pouco no tempo... nasci em Belém/PA, mas aos nove anos mudei para Ourém (uma cidade pequena e charmosa) para morar com minha vó, tia e alguns primos. Antes disso, lembro de ouvir em casa e na vizinhança Roberto, Erasmo, Waldick, os românticos todos. Em Ourém havia um sistema de alto-falante com uma caixa posicionada bem em frente a nossa casa e a programação executava o que havia de mais bacana acontecendo no Brasil: de Novos baianos a Caetano, Gil, Fagner, Elomar, Alceu, Zé Ramalho; hoje percebo que era uma presença muito forte da música nordestina nesse segundo momento da minha formação como ouvinte.
  • Blog do Argonauta: - Que legal. O universo já conspirava. (Risos).
  • Claudia Cunha: - E foi em Ourém - uma cidade com um festival de música dos mais antigos e com uma grande importância no cenário paraense - que comecei a cantar. Julho era o período de férias, que concentrava o festival e trazia visitantes o mês inteiro para os banhos de igarapés e rio, portanto, a noite da cidade também oferecia uma movimentação que incluía música ao vivo. Com 12-13 anos já estava subindo no palco do festival e já era uma voz feminina a quem os compositores da cidade recorriam.
  • Blog do Argonauta: - imagino, que bacana! Sua iniciação no meio musical então começou bem cedo.
  • Claudia Cunha: - Sim. Quando me mudei pra Belém comecei a cantar na noite e ser convidada pra "defender" as canções dos compositores em vários festivais. Ao mesmo tempo passei no curso de Educação Artística - Habilitação em Música da UFBA. Então, nesse universo e contexto a música brasileira era o que predominava e até hoje o que desperta muito da minha sede de descoberta e pesquisa.
  • Blog do Argonauta: - Então, quando veio pra Bahia você já sabia exatamente o que faria dali por diante certo?
  • Claudia Cunha: - Em 1996 me mudei pra Salvador e entrei no curso de Música da UFBA, o que me permitiu encontrar músicos, compositores, e me inserir na cena musical daqui. Como eu já havia passado pela etapa de cantar na noite, em Salvador parti pra construir um trabalho com uma assinatura mais pessoal, voltado mais para teatros.
  • Blog do Argonauta: - Sei que você já ganhou vários prêmios e fez parcerias com verdadeiros ícones da MPB como: Leila Pinheiro, Ed Motta, Geraldo Azevedo, e muitos outros. Isso sem dúvida é fruto de seu talento e carisma.
  • Claudia Cunha: - Os prêmios vieram como consequência de um trabalho construído com muito cuidado sempre, mas que também só foram possíveis porque esses prêmios existiam e são fundamentais para revelar e lançar luz sobre novos artistas. Entres alguns desses prêmios destaco especialmente o Prêmio Braskem de Música, que me possibilitou gravar meu primeiro CD.
  • Blog do Argonauta: - Com certeza, sem apoio ou meios de se mostrar a boa música, a arte, sem valorizar o novo de qualidade, não haveria como emergir sucessos como você e muitos outros companheiros da música e da literatura.
  • Claudia Cunha: - Fazer música e viver dela nunca foi fácil. Como não me vejo fazendo nada muito fora desse campo vou encontrando outras maneiras de exercer meu ofício que não seja somente estar num palco fazendo shows. Então, dou aulas de preparação vocal e atuo com certa frequência como jurada integrando comissões artísticas. Mais recentemente passei a ser convidada para participar de alguns trabalhos de teatro. E esse é outro universo que passou a me interessar bastante.
  • Blog do Argonauta: - Entendo. Uma curiosidade minha, quais as músicas do seu disco que são de sua autoria?
  • Claudia Cunha: - Do meu CD são três: Baião Dividido (Claudia Cunha/Rafael Dumont); No girar de Alice (Claudia Cunha) e Responde a Roda (Claudia Cunha/Manuela Rodrigues).
  • Blog do Argonauta: - É um sonho que se sonha e faz sonhar e no meio a gente vai levando a vida, é preciso viver tanto quanto manter o sonho vivo, um sonho real que se vê nas páginas dos livros publicados, nas músicas cantadas, nos shows, no prazer de fazer sonhar e sentir, e cantar e viver, espalhar formas de pensar, e de apreciar com simplicidade uma boa música ou um bom livro. O Blog do Argonauta está nessa luta para levar e difundir essa arte, que por muitas vezes fica refém da mídia, do marketing, etc.
  • Claudia Cunha: - Pois é, nesse campo enorme das artes, o sonho, a imaginação, a criatividade são uma chama que precisa ser mantida acesa ao mesmo tempo que as demandas da vida real precisam ser resolvidas.
  • Blog do Argonauta: - Isso mesmo. Conta pra gente quais os projetos que você está envolvida no mundo da arte?
  • Claudia Cunha: - No momento estou começando a selecionar as canções para o meu segundo CD, que começo a gravar em outubro/novembro, no máximo. Já tenho muito material - reunidos nesses cinco anos desde o primeiro disco - e continuo a receber coisas novas. Dessa vez espero incluir canções de amigos e parceiros do Pará.
  • Estou em cartaz com o show Duas & Dois de setembro a novembro no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura. Tenho um show todo dedicado a Gal Costa que é uma das minhas musas absolutas, o SOLAR, e que a cada verão volta em cartaz em Salvador desde 2012. E estou também preparando um show em homenagem a José Carlos Capinan, um dos nossos grandes poetas e letristas brasileiros.
  • Blog do Argonauta: - Muito bom, legal. Sobre o disco "Responde a roda" todas as músicas são repletas de uma sonoridade tão agradável que fica impossível não relaxar ao ouvir, curtir o som, a própria música que tem o nome do disco é um exemplo dessa simplicidade, dessa suavidade, e também da alegria de viver.
  • As músicas honram suas raízes culturais e nativas de lá ou de cá, da infância e da vida em si, todos os compositores deixaram o traço bem claro da musicalidade em harmonia com tudo isso. Na sua voz tudo ficou ainda melhor.
  • Claudia Cunha: - Ê coisa boa de ler e saber, Edinei! Obrigada mesmo. Existe de fato uma leveza e um clima ensolarado e com sabor de Brasil no “Responde a Roda”. Lá se vão cinco anos desde o lançamento e ainda hoje recebo retorno de muitas pessoas que seguem ouvindo ou descobrindo ele agora. Acabei de gravar uma participação no programa do Rolando Boldrin - SR Brasil e que me deixou feliz porque é como se reafirmasse a vocação desse disco pra viver bastante. Não há modernidade ou inovação tecnológica e sim uma opção por uma sonoridade clássica e pela boa música brasileira feita por quem ama e conhece do assunto.
    foto de Sidney Rocharte
  • Blog do Argonauta: - Com certeza é uma obra musical atemporal. Claudia, eu me sinto honrado de poder ter entrevistado você, e poder divulgar um pouco dessa música rica de sabores doces e suaves para o quanto eu puder de gente que quiser conhecer um pouco mais da boa Música Popular Brasileira que está por aí, por todo esse Brasil, mas que devido a uma certa alienação ao que só "aparece na TV" (claro que não dá pra dizer que tudo que aparece na TV não é bom), mas há muuuuito mais pra se descobrir, coisas maravilhosas, sons e livros.
  • Claudia Cunha: - Agradeço a conversa e a divulgação do meu trabalho e de tantos outros através do seu blog. Vale muito!
  • Blog do Argonauta: Obrigado. Que bom, fico feliz de ajudar e divulgar o que há de bom no mundo da música e da literatura brasileira. Pra finalizar, deixa pra gente, os links pra que as pessoas possam ouvir mais as suas músicas, saber da sua agenda de shows, redes sociais, pra gente ficar por dentro do mundo artístico de Claudia Cunha.
  • Mais uma vez, obrigado pelo seu tempo, e pela paciência. (Risos).
  • Essa foi a entrevista com Claudia Cunha, Cantora, intérprete e compositora de Música Popular Brasileira. Para conhecer um pouco mais sobre ela e suas músicas, sua arte, é só acessar os links abaixo:

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